Minhas pálpebras são cortinas azuis com bordas de cetim chamuscadas em repouso. Meu estômago revida cada golpe com fama de touro ferido, velho e cansado. Eu insisto, ainda não me tens em pedaços. Solavancos e saltos, espasmos, sou cega e surda, confusa e alheia à matrix. Eu ainda aguento... em desespero terreno. Lucidez incerta, sois rasteira e replicante, pérfida e doentia. Dias de verdades e mentiras, dias sagrados e profanados. A vida ao avesso nos faz sangrar; lentamente... sadicamente... inclemente. Rasga tudo dilacerando teu ser imortal que se refaz sobre uma carcaça estúpida e ingrata. Saia enquanto ainda te vejo! Talvez haja tempo caso queiras fugir. A fumaça ainda não me sufocou, posso lhe acobertar caso tenhas amor para semear. Eu sei que tens! Sinto teu sangue irrigando a carne que ainda tem vida em meio à escuridão. Não confio mais na minha própria razão, apenas me guio pela crença na Terra Prometida em seu estado inegável.
As batalhas queimam em oração mesmo quando não há mais sentido para a vitória ou derrota. Meus passos pisam em terra de almas escravas devastadas e lançadas em seu próprio inferno. Somos animais ébrios suplicando pelo pão. Eu insisto, ainda não me tens em pedaços. Existências simultâneas chocam-se como nêutrons em fissão nuclear. Só precisamos amar... mas isso não parece suficiente quando não queremos nos desvencilhar do caos que instalamos. Não sei mais o que estou enxergando. Sigo sem pressa até achar um mundo sem enganos.
terça-feira, 21 de junho de 2016
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
Hoje vou postar dois textos, que muito me agradam, de um colega do Diários de Mochila, o literato Mario Rodrigues (o mesmo que me apresentou o blog!). Mais textos de sua autoria podem ser conferidos em suas colunas Fragmentos de uma Quase novela de cotidiano e Detritos de memória.
Vamos lá alimentar a mente e a alma a fim de cultivar terreno fértil para dar vazão à criatividade! ;)
Embora a face de uma lembrasse a face da outra, eu teimava em afirmar didaticamente: a minha moça inominável era a moça inominável e a minha amiga da faculdade era a amiga da faculdade. Pra ser mais franco ainda, meus olhos passaram naquele tempo a falar difícil pacas, por amar as duas; obsessivamente, amava as duas, a da ficção e a da não ficção.
Na realidade, ambas eram (e não sei até que ponto é possível aqui prezar por tais existências) duas faces de uma moeda só, uma moeda de valor fora de circulação no mercado e só existente em minha cabeça?
Até hoje não consigo explicar tal acontecimento (não há referências para justificar nesta passagem).
Ainda na época, eu repisava: não sei se amo a moça inominável, não sei se amo a amiga da faculdade, ainda não sei quem eu amo mais; entre as duas, (arriscava-me!) acho que sou mais o amor que as unem a mim – tão bonitinho esse amor! (Nesta imagem declaratória, desconfio que se trata de amor inventado, como cantava Cazuza.)
O que mais tagarelar exatamente da pele do próprio repórter genérico, uma espécie de autorretrato de infelicidade?
Pra ser franco, se eu escancarasse um 1/3 do que eu gostaria de escancarar sobre os bastidores da atividade jornalística – ao longo de um dispensável tempo de trabalho –, iriam me tomar por um sujeito extremamente fora do comum e contra o ser humano. (Como se eu já não o fosse um aposentado das pequenas redações.)
Não posso dizer exatamente? Pois é o que mais se reproduz no dia a dia.
Sigilo de fonte? Sem essa. 95% do chamado sigilo de fonte é omissão de mau-caratismos, leviandades, vaidades descontroladas, interesses escusos, proselitismos, atos subservientes e… e… e…
Sem ambição pra fazer fortuna fácil e o jogo matreiro dos sistematizadores de posteridades, atiro-me pra situação agora há pouco suspensa no ar:
– A falta de saída, o confronto contra o mundo, (quase sussurrando…) um patético ponto de vista à margem da história das santas civilizações.
Textos extraídos do blog literário Diários de Mochila.
Vamos lá alimentar a mente e a alma a fim de cultivar terreno fértil para dar vazão à criatividade! ;)
Entre duas criaturas
O descontentamento, as soluções pontuais, por exemplo, olhar pro lado e espiar a imagem estranha de uma então ideia fixa: a chamada moça inominável surgiria dos lábios marcantes de uma amiga da faculdade; era um absurdo (agora me concentro neste absurdo, uma imagem gravada numa caminhada matinal por um bosque da Universidade E***). Um absurdo histórico a revoada súbita de pássaros acima de nossas cabeças! Eu me apurava mentalmente, negava a ideia original, só podia ser… Não! A moça inominável era a moça inominável e a minha amiga da faculdade era a minha amiga da faculdade. A moça inominável, a amiga da faculdade, a amiga da faculdade, a moça inominável, a elevação de uma dúvida, uma confusão de ânimos.Embora a face de uma lembrasse a face da outra, eu teimava em afirmar didaticamente: a minha moça inominável era a moça inominável e a minha amiga da faculdade era a amiga da faculdade. Pra ser mais franco ainda, meus olhos passaram naquele tempo a falar difícil pacas, por amar as duas; obsessivamente, amava as duas, a da ficção e a da não ficção.
Na realidade, ambas eram (e não sei até que ponto é possível aqui prezar por tais existências) duas faces de uma moeda só, uma moeda de valor fora de circulação no mercado e só existente em minha cabeça?
Até hoje não consigo explicar tal acontecimento (não há referências para justificar nesta passagem).
Ainda na época, eu repisava: não sei se amo a moça inominável, não sei se amo a amiga da faculdade, ainda não sei quem eu amo mais; entre as duas, (arriscava-me!) acho que sou mais o amor que as unem a mim – tão bonitinho esse amor! (Nesta imagem declaratória, desconfio que se trata de amor inventado, como cantava Cazuza.)
Para entendedores
Objeto de pressões inúmeras de todos os lados, cantos e recantos; alvo de tiroteios simbólicos de interesses alheios, escusos ou legítimos; abajur sem lâmpada dos ditos indefesos, das manias e aflições; uma figura sem decência etc. etc.O que mais tagarelar exatamente da pele do próprio repórter genérico, uma espécie de autorretrato de infelicidade?
Pra ser franco, se eu escancarasse um 1/3 do que eu gostaria de escancarar sobre os bastidores da atividade jornalística – ao longo de um dispensável tempo de trabalho –, iriam me tomar por um sujeito extremamente fora do comum e contra o ser humano. (Como se eu já não o fosse um aposentado das pequenas redações.)
Não posso dizer exatamente? Pois é o que mais se reproduz no dia a dia.
Sigilo de fonte? Sem essa. 95% do chamado sigilo de fonte é omissão de mau-caratismos, leviandades, vaidades descontroladas, interesses escusos, proselitismos, atos subservientes e… e… e…
Sem ambição pra fazer fortuna fácil e o jogo matreiro dos sistematizadores de posteridades, atiro-me pra situação agora há pouco suspensa no ar:
– A falta de saída, o confronto contra o mundo, (quase sussurrando…) um patético ponto de vista à margem da história das santas civilizações.
Textos extraídos do blog literário Diários de Mochila.
quinta-feira, 1 de outubro de 2015
Diários de Mochila e um conto hoje no blog
Fico super feliz em anunciar que a partir de agora colaboro no site Diários de Mochila com a coluna Papo Nada Sério?! Convido aos amantes das palavras conferir não só os meus textos, mas os dessa galera super talentosa do Diários! ;) Estreei com a poesia Escolhas... bora conferir?!
Abaixo segue um conto inspirado na concepção de que o universo é regido pelas forças masculina e feminina (quem sabe?!) tanto harmoniosamente quanto caoticamente. Fiquem com A Origem.
Abaixo segue um conto inspirado na concepção de que o universo é regido pelas forças masculina e feminina (quem sabe?!) tanto harmoniosamente quanto caoticamente. Fiquem com A Origem.
A origem
Essa é uma
história de Amor. E ódio. Antes mesmo da concepção do existir, eles já existiam
e devoravam o nada ao seu redor. Numa terra de ninguém, inexistia pureza ou
pecado. Eles eram um só, numa dança atemporal, sem som, nem calor. O universo
não dispunha de movimento. O cosmos, um vazio escoado à sua própria essência.
Não havia definição alguma, atividade ou vontade.
Um casal
rotineiro, sem filhos, com ausência de mínima variação nos costumes: não eram
iguais, mas estavam fundidos numa imersão profunda e constante. Não se sabe ao
certo o que houve; talvez a mesmice de sempre, o comodismo de ambos, ou a falta
de novidade fez com que se separassem. Contudo, não foi um processo fácil,
ambos eram por demais ligados um ao outro; já não sabiam onde esse começava e outrem
terminava. Na verdade, mal tinham certeza de quem realmente eram,
separadamente. Não possuíam identidade própria, entretanto iriam encontrá-la. O
rompimento causou um colapso tal, que os abalos estenderam-se para além do
infinito, alterando a ordem natural de tudo até ali. Cada um foi para um lado,
em extremos opostos, e, à medida que caminhavam, a totalidade à sua volta
expandia-se também. Foi quando ela descobriu-se grávida. Seria o resultado
concreto do ato consumado. Realidade, insubsistente antes do término da
relação, tornou-se exequível originando o movimento, e consequentemente o tempo
e o espaço. Ela daria à luz ao fruto fecundo do mais puro Amor. Do Amor mais
puro. O princípio da existência. Pariu. Deu vida a toda Criação. Seus filhos,
sua prole. Viu-se mãe, e teria de aprender a lidar com esta nova condição para
criá-los, ensinar-lhes a sobreviver por si mesmos. Enquanto em seu ventre,
adormeciam no líquido amniótico, alimentados e protegidos pelo manto maternal
da paz profunda, da serenidade da inconsciência. Fora dele, a Grande Mãe os
instruiria oferecendo-lhes um leque de possibilidades. No começo, na distinção
e diversidade de suas características, complementavam-se fraternalmente.
Irmãos, semelhantes nas suas diferenças, iguais na sua essência. Amavam aquela
que os gerou, a Mãe que forjou todo um mundo para ser o berço de suas crias. E
ela sentia-se orgulhosa que cada qual era uma parte de si, e juntos, eram-na por
inteira. Eles a ouviam; seguiam seus conselhos, era a voz que os guiava.
Presenteavam-na, prestavam-lhe homenagens, honravam-na. Formavam uma família
feliz, com uma matriarca que inspirava paciência, sabedoria, sutileza e
coragem, a feminilidade da Vida.
Mas o Pai
soube de seus filhos, e quis assumir seu papel e reivindicar seus direitos. O reencontro entre as
Forças Creadoras (do latim, crear) foi desastroso, e resultou em
discórdia, disputa de poder e autoridade, confrontos e desentendimentos que se
propagaram como ondas eletromagnéticas desestabilizadoras. Uma luta de
gigantes, e na ausência de base familiar, as criaturas tomaram o recém-nascido
livre arbítrio para si. Vagaram errantes, desvirtuosos por veredas sombrias e
pérfidas. Alguns de lá não mais sairiam. Nesse período, muitos se intitularam
deuses, senhores sobre os demais, impondo-se com superioridade. A soberba, a
iniquidade, as moléstias inundaram a terra com trevas que se estendiam por
vales inteiros, por céus e mares, numa tormenta violenta de terror e maldade. Quando
as Fontes Paradoxas do universo deram-se conta e olharam para toda a Criação,
viram uma mixórdia do verbo em ação, propagada e desencadeada pela energia
liberada da tensão dos Dois. Acusaram-se mutuamente. A Grandeza masculina
tentou restabelecer a normalidade naquele caos. Sentiu-se frustrado nas
tentativas em vão. O Pai dos Céus não tinha qualquer credibilidade na
superfície terrena, não era respeitado, reconhecido pelos seus próprios filhos,
que agiam sem fé, nem esperança. Decidiu puni-los. Escolheu um entre seus
filhos para ajudar-lhe na renovação da vida de todo o planeta. Um que o
escutou. Após dar-lhe as instruções necessárias, chorou. Desabou chorando, de
dor e desespero, com um pesar profundo por não ter conseguido exercer controle
por sob a Terra. Banhou-a com seu pranto, lavou-a creditando estar eliminando
toda a impureza, achando serem suas lágrimas o antídoto ao vírus que assolava e
corrompia a natureza, o código inicial da essência dos seres. De nada adiantou.
O Mal proliferado já havia se enraizado profundamente nas entranhas do que
outrora fora o mundo perfeito. E este mesmo mundo repovoou-se irregularmente,
culminando em desarmonia generalizada novamente.
Agora as
coisas iriam encaminhar-se por si mesmas, jurou para si o Aspecto Cósmico
masculino. Ele e a universalidade feminina não mais se entenderam. Por tudo que
deveria ser... e não foi. A palavra do pai aos poucos foi disseminando-se pela
Terra, atingindo proporções e distorções várias, interpretada e mal
interpretada, sugerindo mudanças nas condutas, comportamentos e posturas das
pessoas. Nos seres que ele ajudou a criar. A Grande Mãe foi enclausurada. Quase
esquecida. Houve tempos terríveis, sanguinários, de muito medo e
intolerância... em nome da fé.
A matriarca
aos poucos foi relembrada. A luz do esclarecimento, do conhecimento voltou a
despertar os sentidos adormecidos da volúvel raça humana, segundo conta uma
lenda. Assim, recobra-se o contato com a Verdade que em cada um habita, e que
em todo lugar está, e isso traz a paz, a harmonia. Ainda conta a lenda que a
união das Forças opostas que regem a vida universal, terá um desfecho feliz,
pois eles se reaproximarão, retomando o casamento perfeito. O equilíbrio de
toda concepção concreta e abstrata depende disso; viver num único e verdadeiro
Reino: o do Amor.
domingo, 20 de setembro de 2015
Superação feminina
A mulher e sua representatividade
Em pleno séc. XXI a
mulher ainda luta contra tabus, desvalorização e discriminação de todo tipo. Ao
longo da história, e no transcorrer de processos e transformações sociais e
culturais, a mulher busca firmar seus direitos na igualdade de gêneros, e
conquistar seu espaço como profissional, cidadã, mãe e esposa, superando
preconceitos, e quebrando paradigmas. Esse caminho de lutas e glórias, muitas
vezes marcado por violência e privações, é o legado que dia após dia essas
guerreiras carregam em sua trajetória. Infelizmente ainda são alarmantes as
estatísticas referentes à violência contra a mulher, e as ações e movimentos
que surgem a fim de fortalecer o propósito em acabar com tamanha barbárie são
ainda pequenos diante da realidade atual.
Conceitos depreciativos
e uma mentalidade profundamente machista coexistem com importantes conquistas
femininas em diversas áreas da sociedade. A cultura de massa que ajuda a
propagar uma visão degradante da imagem da mulher, somada a uma concepção
limitante do papel da mesma são ingredientes perfeitos para fortalecer o senso
(ou seria a falta dele?) da pseudo superioridade masculina.
Chiquinha Gonzaga,
compositora, musicista e primeira maestrina do Brasil enfrentou a sociedade
patriarcal do séc. IXX revolucionando padrões comportamentais encarados como
imorais e inaceitáveis. Casou-se duas vezes e se separou; firmou-se como
pianista profissional, o que era inédito para uma mulher na época; fundou a primeira
sociedade protetora e arrecadadora de direitos autorais do país para valorizar
o trabalho dos artistas. Ela encarou os desafios tanto profissionais quanto
pessoais em um período em que a mulher nada podia. Porém, 80 anos após sua
morte, os avanços quanto aos direitos e à valorização da figura feminina ainda
estão em um curso sombrio. Abusos, estupro, violência... questões culturalmente enraizadas e aceitas nas crenças coletivas. Um estupro coletivo pode ser
justificado, agressões físicas e violência doméstica também, só para citar
alguns.
É, muita coisa não se encaixa, contextos deturpados que não dão vez ao respeito à pessoa, às suas escolhas, suas convicções, sua sexualidade, sua natureza feminina, seu papel social. A mulher não só tem o direito de exercer seu livre-arbítrio de maneira plena e total. Ela tem esse direito e merece todo respeito, e merece usando minissaia, calça jeans ou burca.
É, muita coisa não se encaixa, contextos deturpados que não dão vez ao respeito à pessoa, às suas escolhas, suas convicções, sua sexualidade, sua natureza feminina, seu papel social. A mulher não só tem o direito de exercer seu livre-arbítrio de maneira plena e total. Ela tem esse direito e merece todo respeito, e merece usando minissaia, calça jeans ou burca.
Simplesmente
mulher
"Seus
sapatos seguindo rastros, suportando fardos que só
mulheres
como nós sabem aguentar. Sobreviver de
migalhas,
farelos pisoteados só para fazer jus aos sonhos
de
uma esperança quase sem fim.
São
pés cansados beirando o asfalto da discórdia e da
dor.
Num mundo doente, nossas mãos buscam sementes
tragadas
pelo chão quase sem vida, seco de amor.
O
corpo padece, vacila, mas a mente elucida que há tanto
por
fazer, seria egoísmo continuar a questionar. Esse é o
preço,
e mesmo à beira do desespero, a verdade não nos
pode
faltar. Através dela vem a coragem, e amor e
vontade
de seguir forte adiante, mesmo que ninguém
perceba.
E ninguém percebe.
Quem sabe das suas cicatrizes,
das batalhas das quais saiu
derrotada,
quase morta?
Quem
sabe dos seus sonhos e meninices, dos seus
fantasmas
e sandices?
Seus
anjos e suas trevas estão consigo, e somente consigo,
nenhuma
paixão efêmera poderia compreender.
Então
brava guerreira, deusa da justiça e da
Liberdade;
grande mãe que traz vida e orienta o
Mundo;
continue sendo, mesmo que em muito se
anulando,
esta grande alma que num corpo
mortal
segue rumo à luz da Verdade Suprema..."
Documentário Maria - A história das mulheres no Brasil
quarta-feira, 9 de setembro de 2015
Verdades Incertas
O texto abaixo conta com alguns recursos para dar mais ênfase e vida, como uma música de minha autoria bem no final (vale lembrar que eu não sou violonista, então considerem por favor). A seguir o conto Verdades Incertas.
O que dizer de Joana?!
Sonhadora, dramática existencialista e que ainda por cima acreditava não só em
pequenos milagres e seus lampejos de esperança, mas em milagres capazes de transformar
por completo a vida de alguém. Um misto de doçura e rispidez marcavam sua
personalidade, como os mais próximos bem sabiam. Vivia movida à emoção mesmo
sabendo ser um alto preço a se pagar, entretanto era algo intrínseco à sua
natureza, por mais racional e ponderada que ela tentasse ser. Talvez houvesse
alguém em algum lugar com muitas coisas assim em comum, e quem sabe ainda o
destino trataria, de alguma maneira, de aproximá-los.
Em frente à tela de seu
computador, ela se perguntava se aquele simpático rapaz era apenas mais um
personagem do mundo virtual criado por um alguém completo oposto, ou se
realmente era uma pessoa de carne e osso sendo ela mesma. As conversas on-line
mantinham-se interessantes desde o começo, e mesmo com o passar dos dias os
assuntos fluíam entre eles. Ela gostava de falar com aquele cara, afinal bom
papo hoje em dia é raro, ainda mais pela internet. Mas havia um ponto em
especial que chamava mais sua atenção: Joana desconfiava que talvez ele fosse
sincero, mas ainda era cedo, muito cedo para aquela mulher ter certeza disso. E
assim os dias iam passando, e assim a vontade entre eles de manter contato e de
se falar (teclar, diga-se de passagem) aumentava. Joana passava por uma fase
complicada em sua vida; seu relacionamento findara, seu lado profissional
estava sendo reformulado, havia problemas familiares, e como mãe ela sentia-se
fracassada e frustrada. Dividir isso com qualquer pessoa estava fora de
cogitação, ou talvez não já que seu ex-namorado queria ampará-la no que fosse
preciso. Não, ela sabia que isso não daria certo, nunca havia dado; era
doloroso e desolador, mas ela precisava seguir em frente por si mesma, com sua própria
força (quase escassa). E fora nesse meio tempo de transição que a amizade
virtual com aquele sujeito ora problemático e ranzinza, ora acolhedor e
envolvente se intensificou. A sensível mulher percebeu que ele precisava de
ajuda, mas o que fazer diante da situação demasiada delicada entre eles? As
conversas na maioria das vezes pendiam
para graves desentendimentos no final da noite, e Joana que pensava seriamente
em resolver aquilo simplesmente deletando o jovem instável de seus contatos, se
viu diante de algo que o coração apontava para o exercício da paciência. Na
verdade ambos precisavam de ajuda, ambos gritavam e sofriam com seus próprios
problemas; os dois queriam apenas um milagre em suas vidas. A cilada do destino
estava armada.
- Como a gente consegue brigar tanto, ainda mais virtualmente?
-
Eu já te falei cada coisa absurda... meu deus...
Quando Joana se deu
conta, ela já não era apenas uma amiga à distância preocupada com alguém que
parecia perdido; ela estava apaixonada. Eram madrugadas adentro via mensagens e
telefonemas; era um algo sem explicação que não a deixava se afastar nem
raciocinar o quanto aquilo tudo era infrutífero e insano. João a conquistou e a
elevou como sua salvadora, afirmando isso com todas as letras. Ela gostava
daquela atenção que mesmo muito tempestuosa a fazia acreditar ser uma pessoa
especial; especial para aquele por quem ela estava irremediavelmente caidinha.
Sua alma de artista deixava-se levar por aquelas palavras... ah, as palavras!
Joana adorava as palavras... mesmo sabendo que elas são flores fincadas em
lâminas afiadas.
Mesmo com todas as
contrariedades, eles seguiram ávidos pelo desejo de viver uma história sem
precedentes. Duas crianças brincando num carrossel holográfico que apenas eles
enxergavam. Tudo no plano do imaginável. A uma altura dessas, Joana já não
conseguia discernir, mesmo se quisesse, as consequências que um envolvimento às
cegas como aquele poderiam trazer. As conversas, as cobranças, as declarações
apaixonadas, o mergulho suicida na crença do amor sem muitas objeções guiavam
suas rotinas. E assim mantiveram-se até o encontro real. Finalmente depois de
tantos meses e tentativas adiadas de se conhecerem cara a cara, poderiam se
olhar nos olhos e se abraçar.
Era mágico e o frio na
barriga aumentava à medida que as horas e os minutos avançavam; aquela jovem
mulher queria tanto beijá-lo! Ele a fazia sonhar. Quando se viram e se
encontraram pela primeira vez, seus rostos pareciam iluminados e naquele
instante nada mais importava. Era engraçado o que eles haviam superado para
estar ali, tanta briga e discussão idiota que não tinham mais qualquer sentido então.
Joana sentia-se meio entorpecida com a situação, e por mais que achasse que
João não estivesse muito à vontade, acreditava que talvez fosse por sua
timidez. Ele havia avisado. Os dois estavam juntos, e isso bastava. Eles se
olharam ternamente e se beijaram encostados no carro do rapaz como dois
adolescentes desajeitados acolhidos pela noite serena. Passearam de mãos dadas
entre sorrisos e poucas palavras pela avenida pouco movimentada de um dia
qualquer, e após um lanche rápido, saíram rumo a um lugar tranquilo para se
curtir; o resto da noite seria só deles.
Assim que entraram no
quarto alugado, João perguntou se ela conseguia ouvir seu coração batendo
forte. Joana sorriu e disse que sim. Ela o amava e sentia-se feliz por estar
ali. Queriam um ao outro e seus corpos pediam por isso. Fizeram amor a noite
inteira até a manhã seguinte, aventurando-se na lascívia da paixão. Selaram um
compromisso de respeito e cumplicidade olhando nos olhos um do outro; fariam de
tudo por aquela união, enfrentariam qualquer coisa para permanecerem juntos.
Doce ilusão. Ao se despedirem, talvez tomados pela emoção, ou por quererem
acreditar na fantasia do momento, declararam um “Eu amo você” que
incendiou o coração de Joana. Ao se afastarem e darem um último adeus pela
vidraça do ônibus que se retirava, a moça sentia o peito apertar de saudade e
tristeza. As mensagens por celular que eles trocaram em seguida mostraram que
era recíproco, eles estavam em sintonia e o universo conspiraria a favor deles
(ou não).
Os dias que se seguiram
foram conturbados, marcados por brigas e desentendimentos. Motivos banais
escondendo questões sérias foram usados para testar se aquela relação era
verdadeira ou perene. Separados por mais de 50 km de distância, cada um estava
envolvido em seus próprios problemas e correrias. Porém o final de semana se
aproximava e tudo aquilo se findaria, pois estariam juntos novamente. Mas isso
não aconteceria. Eles não puderem se encontrar pessoalmente, e por telefone,
verdades vieram à tona e Joana não aguentou a pressão; queria ter certeza da
verdade mais a fundo. João não era exatamente quem ela imaginava; versões
várias lhe foram apresentadas e em sua cabeça tudo ficou quente e confuso. A
impulsiva mulher ficou transtornada diante de certos fatos que fugiam completamente
com o que o cara por quem ela estava perdidamente apaixonada afirmava ao longo
do tempo em que se conheciam. Um ponto final em toda aquela enganação precisava
ser dado. As palavras de carinho foram substituídas por insultos e ofensas, de
ambas as partes, e no desenrolar da semana tudo apenas piorou. Uma enxurrada de
acusações absurdas veio da contramão em direção a Joana, e nada mais,
absolutamente nada mais fazia sentido naquele lamaçal de injúrias e mentiras.
Tudo acabou em meio a um buraco negro de desavenças e sofrimento. Joana e João
tornaram-se dois estranhos cegos de cólera, e tomados por ressentimentos e
feridas profundas. Ainda assim a incorrigível romântica sentia falta daquele
rapaz.
As promessas foram tão
fáceis... mas não simplesmente jogadas fora ou esquecidas como panos velhos
corroídos pelo tempo; tudo estava fresco demais para isso. As promessas foram
degoladas e rasgadas com vigor e ódio. Como aquele amor que parecia real, que
parecia palpável, que parecia sincero se transformou em tanta discórdia e dor
de uma hora para outra?!
-
Eu juro que vou fazer de tudo por esse amor – ambos
juraram; tudo era possível enquanto estavam nus sob a cama com suas peles se
roçando. Reforçaram o juramento de nunca mentir ou omitir algo um ao outro
enquanto a manhã lá fora se arrastava como o despontar de um novo horizonte em
suas vidas. Eles haviam divido medos e sonhos, anseios e objetivos um com o
outro. Tudo havia se comprovado um grande engano e devaneio pueril.
-
Eu tremo só de pensar em te perder...
O baque foi forte
demais para a sonhadora Joana. Por mais melodramático que pareça, ela não
conseguia comer ou se concentrar direito em nada. Pouco a pouco as coisas iriam
ser digeridas, talvez um pouco à força, mas devagar tomariam seu percurso
natural de conformidade. Até seu telefone tocar numa noite chuvosa. Era João.
Havia apenas um assunto ainda pendente entre eles, mas que podia ser resolvido
por intermédio de outros meios. Um e-mail ou mensagem de celular seria
suficiente, mas o telefone insistiu em tocar mais uma vez. Ela não queria falar
com ele, era doloroso e desnecessário; ainda assim atendeu como se tivesse
peito suficiente para escutar a voz de alguém que em tão pouco tempo lhe
causava tanto estrago.
O tom de ambos não foi
amistoso. O estômago da jovem revirava conforme a conversa avançava, e com os
esclarecimentos vindouros seu coração sangrava rarefeito. João com naturalidade
confirmou que ele a ex estavam ensaiando reatar o namoro, que ele tentara se
enganar e Joana havia sido uma opção como tapa buraco. Ela mal conseguia
acreditar... A falta de tato e de consideração por parte dele consumiam-na
internamente. Ao menos todos estavam felizes; sua família por vê-los separados,
a ex e ele por estarem juntos novamente. Ele nunca fora merecedor de seu amor.
Após encerrar a ligação
para nunca mais, ela fumou um cigarro, e outro, pensando o quanto fora trouxa. Ela
havia participado de uma história fictícia, e se perguntava como alguém podia brincar
com os sentimentos alheios de forma tão egoísta e mesquinha daquele jeito. Era um
aprendizado a mais para ela guardar em sua caixinha de “olha como é a vida, não cai mais nessas”... Estava doendo, mas ia
passar. Ela gostaria que aquilo tudo fosse apenas um grande mal entendido, mas
não era. As pessoas mentem e enganam todos os dias; alguns verdadeiros
jogadores profissionais. Tudo ficaria bem a partir dali com as máscaras ao chão,
e ao menos por isso ela sentia-se aliviada. Mesmo amando-o, ele nunca mais
ouviria isso de sua boca. E com a certeza de uma alma em chamas, Joana
despediu-se do rastro de uma mentira amarga. Enfim, tudo acabara.
domingo, 30 de agosto de 2015
Texto um tanto piegas e meio amador.. eu sei; mas eu o adoro! Escrevi esse conto há algum tempo, então fiz algumas revisões e procurei não fazer muitas alterações. Para mim é gostoso rever (ou melhor, reler!) coisas de épocas em que a concepção tanto das ideias quanto da estrutura e construção da redação eram outras... Segue então abaixo, Amor Bandido.
Amor
bandido
Foi num final de
semana chuvoso que minha vida mudou completamente. Através da vidraça embaçada
eu olhava a chuva caindo, estridente, batendo nos canos metálicos da fábrica. A
noite fresca aliviava o ar abafado da tarde sufocante. Ainda assim parecia-me
irrespirável a atmosfera do ambiente. A solidão daqueles corredores era
angustiante; não aguentava mais aquele trabalho. Não era só entediante, era
frustrante e desolador. Eu passava horas monitorando salões e corredores
vazios. Minha vontade era sair e deixar tudo para trás, para não mais voltar.
Mas eu me acovardava diante da possibilidade real. Eu não tinha muitas
perspectivas para minha vida e meu futuro.
Eu estava há quase
quatro meses nesse serviço, e até então não tivera problema de espécie alguma
na firma. Entrei com boa indicação, tinha boas qualificações e seguia
rigorosamente o regulamento, tanto que até criara algumas inimizades devido à
minha postura. Durante uma ronda naquela melancólica madrugada, verificando os
fundos de um dos galpões da fábrica, fui surpreendido por um barulho em uma das
portas laterais do prédio. Com cautela, fui checar o ruído, acreditando não
passar de algum gato ou outro bicho que tivesse esbarrado ou deixado cair algo.
Ao me aproximar, percebi a porta destravada, e foi apenas o tempo de sentir o
impacto dela ao me atingir com veemência, levando-me ao chão. Dessa forma os
invasores facilmente dominaram-me, e em seguida amarraram meus pulsos. Eles
estavam em três e toda a ação aconteceu rapidamente. A destreza e rapidez com
que agiram, deixou claro que tratava-se de profissionais que sabiam exatamente
o que queriam, e como fazer para consegui-lo. Levaram-me para desacionar o
sistema de segurança programado. Eu não queria ceder, até vê-la. Ela era a
líder do grupo. Uma mulher que não temia esconder sua identidade não usando
máscara, ou qualquer outro disfarce. Vestia roupas pretas que, coladas em seu
corpo, contornavam sua bela silhueta. Era a voz de comando e respeito no meio
daquele bando. Ao primeiro contato com aquela figura autoritária e feminina, eu
sabia que já estava irremediavelmente rendido e a ela entregue. Seu magnetismo
me seduziu. Eu a encarei, e sua expressão impassível exigiu de mim,
silenciosamente, obediência, ganhando assim mais um soldadinho para seus
propósitos.
Eles tinham tudo
muito estudado e planejado, e rapidamente a tarefa foi executada e eu fui
levado como refém. Em momento algum sofri agressão física, mas pressão, coerção
psicológica sim. Vendado, fui posto num carro que arrancou velozmente do local,
e cujos ocupantes permaneceram calados a maior parte do trajeto. Em determinado
momento, a voz feminina me interrogou querendo saber mais sobre mim, e confesso
que falando da minha vida pessoal, gaguejei um pouco. Perguntou-me se eu tinha
mulher e filhos para criar, o que lhe respondi negativamente. Indagou-me então
que raios eu fazia naquele serviço...
-
Seguindo para não parar no meio do caminho. Um dia minha rota pode mudar – E ela então cessou com as
perguntas. Não sei dizer quanto tempo se passou durante o percurso, sei apenas
que o aroma que ela exalava, e eu inalava, acalmava minha ansiedade, por mais
estranho que pareça. Talvez ainda não soubesse bem ao certo, mas um novo mundo
a mim estava mostrando-se. O carro parou; desceram-me. Eu apenas conseguia
identificar o ruído de nossos passos sobre pedregulhos. Escutei a voz da
misteriosa chefe dizendo a um dos homens que me levassem a sua sala. A julgar
pelo caminho que percorri, parecia um grande depósito, e após alguns degraus,
fui introduzido em um cômodo. Sentaram-me. Após alguns minutos ela chegou,
falando para nos deixar a sós. A batida de seus saltos denunciavam sua
aproximação. Seu cheiro era irresistível. Ela tirou minha venda, fixando seus
grandes olhos verdes em meu rosto, enquanto seus carnudos lábios moveram-se
lentamente.
- Se você pudesse fazer uma escolha agora,
qual seria? - apreciando seu belo rosto, sua postura imponente, seu ar
sedutor e sério, respondi com certa sofreguidão:
- Mesmo se eu tivesse em condições de optar
por algo, eu não saberia o que escolher. E agora, estou em suas mãos.
- Quero que trabalhe conosco. Acho que você
está em uma direção errada. A gente tem que sentir prazer e satisfação naquilo
que faz, e não me parece seu caso. Você merece a chance de explorar novas
direções.
Eu aceitei. Aceitaria
qualquer coisa hipnotizado por aqueles grandes olhos de esmeraldas. Ela me
desamarrou e eu perguntei-lhe se ela não temia ter feito aquilo. Com um risinho
sarcástico ela disse que nós dois sabíamos que não havia perigo, nem imediato,
nem futuro. Em nenhum instante ela hesitou em me deixar à mercê de minhas
próprias vontades e escapar. Não fui forçado, fiquei ali porque quis, e passei
por uma fase de treinamento e testes.
Eu era
designado para realizar pequenas tarefas, internas, e era constantemente
monitorado. Aos poucos fui sendo aceito pelo grupo, e entendendo o
funcionamento e o processo daquele tipo de trabalho. Sentia-me cada vez mais envolvido
com aquilo tudo. Certa tarde fui até o escritório pegar instruções para minhas
próximas tarefas, e encontrei a porta aberta e a sala vazia. A maior parte do
grupo havia saído para realizar um serviço encomendado. Entrei decidido
aguardar lá dentro minha chefe chegar. Vi algumas caixas abertas em sua mesa e
curioso aproximei-me. Em uma das caixas avistei um uniforme, e quando eu ia
tirá-lo dali, senti um golpe e meus dois braços ficaram imobilizados para trás.
Era ela. Perguntou-me com a ponta de um canivete em meu pescoço:
- O que pensa que está fazendo
aqui? - as
pontas de seus dedos encostaram em meu rosto com uma suavidade segura e
determinada. Percebi que minha vida estava literalmente em suas mãos. Ela
fechou o canivete e virou meu rosto, sem liberar meus braços. Olhamo-nos com a
intensidade da volúpia que atiça duas almas sedentas de desejo. Um vácuo no
tempo se abriu e nada mais no espaço se colocava entre nós. A sensação era
mútua. A fome e a vontade também. Num ímpeto ela me soltou e exigiu que eu
seguisse minha intuição, que eu estava livre para seguir meu caminho, o
verdadeiro, só dependia de mim dar o primeiro passo. Nunca fui bom em
conquistas, em flertar e me dar bem com as mulheres. Minha timidez e
insegurança nunca me permitiram. Mas mesmo diante de uma mulher poderosa como
aquela, não sei o que me impulsionou até ela e eu a tomei em meus braços,
beijando-a com tesão e vontade. Ela entregou-se reciprocamente. Minhas mãos
foram deslizando pelo seu corpo arrancando-lhe as roupas, e nossas bocas não
ousavam se descolar, enquanto nossas carnes inflamavam a medida em que nossa
sintonia química aumentava. Nossos corpos fundiram-se na explosão de um clímax
descontrolado e arrebatador. Eu não era mais o mesmo; depois de ter aquela
mulher, nunca mais seria o mesmo. Ela vestiu-se e disse-me que ia checar para
certificar se tudo estava em ordem no depósito, se alguém havia chegado. Ao
regressar, encontrou-me sentado em sua cadeira; semblante, expressão e postura
de um perfeito servo ao seu dispor. Eu havia renascido e não me desvirtuaria de
minha nova filosofia de vida: segui-la até o inferno se preciso fosse.
Foi assim que começou
minha vida no crime. Foi assim que começou minha saga ao lado da mulher com
quem queria passar o resto de meus dias. Eu a chamava de Sky, meu Céu, e com
essa parceria, nossos negócios prosperaram internacionalmente. Recebíamos
trabalhos encomendados de toda parte do mundo, desde magnatas anônimos a
ilustres personalidades. Especializamo-nos em furtos e roubos de informações e
documentos. Usávamos tecnologia de ponta para driblar esquemas sofisticados de
segurança. Quando necessitávamos de ajuda extra, sabíamos com quem contar,
chamávamos os melhores e mais respeitados peritos da área. Tínhamos o Furão,
exímio com explosivos e táticas de arrombamento; Billiu, o motorista mais
calculista e veloz que eu já conheci; Tom, ”O Espião”, cuidava dos pormenores
do serviço de análise do terreno, vigilância e levantamento de informações para
a elaboração da estratégia que empregaríamos. Finalmente minha Sky, a hacker mais astuta que já vi, capaz de
burlar esquemas complicadíssimos de códigos em linguagens de TI, e decodificar
controles de sistemas com maestria. Aperfeiçoei-me em abrir cofres, e
juntamente com Sky bolava a estratégia e as diretrizes do plano que
executaríamos.
Contávamos com essa
equipe em casos mais complexos, como no caso de recuperação de documentos
fraudulentos guardados em um cofre de uma empresa de prestação de serviços que
estava tentando chantagear nosso cliente. Entramos no estabelecimento, abrimos
o cofre e pegamos os tais documentos, e para ganhar tempo na fuga, preparamos
algumas artimanhas pirotécnicas executadas por Mr. Furão. Nossa retirada foi
apoteótica com direito a efeitos especiais. Foi um dos trabalhos mais
divertidos que já tivemos. Depois desse trabalho, tiramos férias na Ilha de
Páscoa por algumas semanas. Sky estava radiante envolvida na atmosfera mística
do lugar. Almoçávamos ao ar livre e fazíamos amor contemplados por aquelas
estatuetas tão misteriosas quanto a própria ilha. Não ter morada fixa, excitava
a ambos, éramos cidadãos do mundo aproveitando ao máximo as vantagens da
globalização. Eu a amava e isso me era indissociável, ela era intrínseca à
minha própria natureza.
Sky sempre acreditara
em intuição, sexto sentido, revelação; ao seu ver nada era ao acaso. E o
porque, segundo ela, nos era soprado ao ouvido ou anunciado por sinais. Segundo
seu relato, fora assim que ela chegara a mim e me descobrira como sua alma
gêmea, sua outra parte.
Lembro-me de nossa
última investida, nosso último serviço antes da dor da separação. Minha mulher
costumava consultar as cartas, acreditando plenamente que podíamos prever o
futuro através da cartomancia. Quando as jogou para saber a respeito do
trabalho em questão que realizaríamos, a sorte foi das piores. Não seríamos
prósperos, corríamos sérios riscos. Tentou de todo jeito me fazer desistir, mas
eu lhe jurei que estava tudo sob controle, que já havíamos pegado casos mais
complicados e difíceis; daria tudo certo, e que se ela quisesse, pararíamos
depois daquele serviço, seria nossa garantia de aposentadoria. Mas não era isso
que ela queria. Sky amava o que fazíamos, e assim como eu, sentia prazer em
nosso trabalho.
Entramos em uma
residência particular para pegar material de segredo empresarial. Estudamos
durante semanas a casa, a rotina de cada um que a frequentava. Tom chegou a
trabalhar na mansão como técnico de manutenção em eletrônica para ter acesso ao
seu interior a fim de obtermos mais informações. Tudo planejado, chegou o
grande dia. Desativamos o sistema local de segurança, mas sabíamos que ainda
havia dois outros em pontos específicos da casa. Por um descuido de atenção,
acionamos um dos alarmes centrais e o sistema de fechamento e travamento do gabinete
em que estávamos foi ativado. Não tinha como sairmos. Sky havia ficado no
furgão comandando de lá cada passo nosso. Não foi sua culpa o erro, foi minha.
Um toque em algo que eu não devia ter mexido jamais: um quadro fora do lugar.
Eu pedi, implorei através do ponto no ouvido a Sky para fugir que depois eu
daria um jeito. Ordenei a Biliu que saíssem do local. Cheguei a ser estúpido
com ela para que se fosse. Tom e eu fomos presos uns dez minutos depois, com a
mansão cercada por policiais. Não tinha como escaparmos nem do gabinete, nem do
cerco policial. Nunca entregamos Sky ou Biliu, e minha admiração pela lealdade
de nosso “Espião” só aumentou. Fomos condenados a doze anos de prisão cada um.
Ficamos em presídios diferentes. Disse a Sky para que nunca nos visitasse;
usávamos intermediários, celulares entre outros meios para nos comunicar.
Após um ano preso,
concretizei um plano de fuga que favoreceria tanto a mim quanto ao meu amigo
Tom. Fiz as conexões necessárias para facilitar nossa fuga, e no dia programado,
saí normalmente para realizar o trabalho de serviços gerais no qual fora
designado dentro do presídio. O caminhão da empresa terceirizada, responsável
pela refeição dos internos chegou no horário marcado, e através de manobras e
subornos, pude entrar num dos compartimentos do veículo e sair da penitenciária
sem problemas, para sempre. O mesmo acontecia a Tom em um outro ponto do
estado. Sky foi me pegar no lugar combinado. Não sei descrever a alegria e o
alívio ao vê-la junto a mim novamente. Estava junto de minha Sky. Fizemos amor
e eu lhe jurei que não mais nos separaríamos.
Fomos pegar Tom e lhe
entregamos seus novos documentos, sua nova identidade. O companheirismo com os
membros de nossa equipe só aumentou. Cuidamos uns dos outros tal como uma
família. Lealdade está acima de tudo.
Sky é minha
chave-mestra, e é a real motivação disso tudo. Nunca deixamos o roubo de lado.
Além de nosso amor um pelo outro, é o que nos incita, nos dá prazer e
proporciona conforto ao nosso estilo de vida. Enfrentamos riscos como em
qualquer outra profissão, claro que com uma dose extra de adrenalina e de
ilegalidade. Ainda assim pra mim é o que vale a pena. É vivendo assim que
descobri que é esse o meu caminho, e era sobre isso que Sky me indagou quando
nos conhecemos. Com ela descobri minha direção. Obviamente não é o caminho que
aconselho as pessoas seguirem, o risco disso tudo provavelmente não valha a
pena... não vale se você não tem o amor e a sorte a seu lado.
domingo, 17 de agosto de 2014
Estilo de vida: viajar é liberdade
É incrível como as possibilidades que as informações trocadas nas redes sociais podem afetar a maneira como as pessoas encaram o mundo. No paradoxo existencial perigoso e arriscado, escolhemos um modo de vida seguro e talvez percamos maravilhas que só um caminho um pouco mais ousado nos proporcionaria. Quando lemos um pouco o blog Coração Nômada temos essa sensação nitidamente. Um casal que resolve adotar um estilo de vida novo ao largar tudo para percorrer com seus três cachorros uma viagem por toda América Latina. Assim eles vivem e trabalham. O medo do desconhecido não os intimidou a ponto de desistirem dessa ideia e propósito pouco convencional numa sociedade que tem como fundamento ser escrava do trabalho, para ganhar dinheiro assegurando vida longa à indústria do consumo a qualquer preço.
Lendo o site Nômades Digitais percebi que podemos nos despreender das amarras de uma vida pré-programada e fixada num lugar por conta de trabalho, moradia, educação dos filhos, a ponto de mudar as coisas a fim de aproveitar e desfrutar muito mais a vida viajando e conhecendo outros lugares e culturas. Segundo o próprio site, "com a evolução da era digital e das tecnologias móveis, cada dia mais pessoas começaram a perceber que os limites geográficos não são mais precisos. Se você pode trabalhar de casa, usando a tecnologia, você pode trabalhar de qualquer lugar do mundo. E esse é o novo Sonho Americano pra muita gente e os personagens dessa nova história ganharam o nome de “Nômades Digitais“. E a escola das crianças? Como fazer com a educação dos filhos?! Há novos mecanismos e obviamente a tecnologia vem de encontro numa nova concepção para levar informação e conhecimento. Clique aqui para ver uma dessas maneiras inovadoras.
Talvez repensar sobre a vida que levamos, se estamos realmente felizes com o que fazemos, e considerarmos que há maneiras de encarar a vida nos remeta a um dilema que devessemos encarar como necessário para quem sabe, redefinir nosso modo de viver.
Lendo o site Nômades Digitais percebi que podemos nos despreender das amarras de uma vida pré-programada e fixada num lugar por conta de trabalho, moradia, educação dos filhos, a ponto de mudar as coisas a fim de aproveitar e desfrutar muito mais a vida viajando e conhecendo outros lugares e culturas. Segundo o próprio site, "com a evolução da era digital e das tecnologias móveis, cada dia mais pessoas começaram a perceber que os limites geográficos não são mais precisos. Se você pode trabalhar de casa, usando a tecnologia, você pode trabalhar de qualquer lugar do mundo. E esse é o novo Sonho Americano pra muita gente e os personagens dessa nova história ganharam o nome de “Nômades Digitais“. E a escola das crianças? Como fazer com a educação dos filhos?! Há novos mecanismos e obviamente a tecnologia vem de encontro numa nova concepção para levar informação e conhecimento. Clique aqui para ver uma dessas maneiras inovadoras.
Talvez repensar sobre a vida que levamos, se estamos realmente felizes com o que fazemos, e considerarmos que há maneiras de encarar a vida nos remeta a um dilema que devessemos encarar como necessário para quem sabe, redefinir nosso modo de viver.
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