terça-feira, 21 de junho de 2016

Reccorrência

Minhas pálpebras são cortinas azuis com bordas de cetim chamuscadas em repouso. Meu estômago revida cada golpe com fama de touro ferido, velho e cansado. Eu insisto, ainda não me tens em pedaços. Solavancos e saltos, espasmos, sou cega e surda, confusa e alheia à matrix. Eu ainda aguento... em desespero terreno. Lucidez incerta, sois rasteira e replicante, pérfida e doentia. Dias de verdades e mentiras, dias sagrados e profanados. A vida ao avesso nos faz sangrar; lentamente... sadicamente... inclemente. Rasga tudo dilacerando teu ser imortal que se refaz sobre uma carcaça estúpida e ingrata. Saia enquanto ainda te vejo! Talvez haja tempo caso queiras fugir. A fumaça ainda não me sufocou, posso lhe acobertar caso tenhas amor para semear. Eu sei que tens! Sinto teu sangue irrigando a carne que ainda tem vida em meio à escuridão. Não confio mais na minha própria razão, apenas me guio pela crença na Terra Prometida em seu estado inegável.

As batalhas queimam em oração mesmo quando não há mais sentido para a vitória ou derrota. Meus passos pisam em terra de almas escravas devastadas e lançadas em seu próprio inferno. Somos animais ébrios suplicando pelo pão. Eu insisto, ainda não me tens em pedaços. Existências simultâneas chocam-se como nêutrons em fissão nuclear. Só precisamos amar... mas isso não parece suficiente quando não queremos nos desvencilhar do caos que instalamos. Não sei mais o que estou enxergando. Sigo sem pressa até achar um mundo sem enganos.





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