segunda-feira, 25 de junho de 2018

Fernando Pessoa

Uma de minhas primeiras paixões dentro do universo literário, mais precisamente dentro do gênero poesia, foi Fernando Pessoa e seus heterônimos. Esse português natural de Lisboa, nascido a 13 de junho de 1888, foi além de poeta, filósofo, ensaísta, dramaturgo, entre outras proezas. Tal como nos informa sua biografia, sua poesia é lírica e nacionalista voltada a temas tradicionais portugueses, como também subjetiva, reflexiva sobre seu "eu profundo".



Biografia Fernando Pessoa


Sempre me encantou as possibilidades que a arte proporciona, e as palavras com seus arranjos me fisgou desde cedo. Essa paixão inebriante foi aumentando com o tempo e com as perspectivas libertárias que foram se afirmando diante das descobertas reveladas.

Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo.
que ninguém sabe quem é
( E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes
e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fernando Pessoa - extraído de Revista Bula


Fernando Pessoa por Paulo Autran (poemas)


Fernando Pessoa através de sua genialidade consagrou-se como um dos mais importantes poetas da língua portuguesa, e principal representante do Modernismo português. Seu "Livro do Desassossego", escrito sob o heterônimo de Bernardo Soares, um ajudante de guarda-livros (profissional contábil) é considerada uma obra-prima, próxima de uma prosa poética.

Há em Lisboa um pequeno número de restaurantes ou casas de pasto [em] que, sobre uma loja com feitio de taberna decente se ergue uma sobreloja com uma feição pesada e caseira de restaurante de vila sem comboios. Nessas sobrelojas, salvo ao domingo pouco freqüentadas, é freqüente encontrarem-se tipos curiosos, caras sem interesse, uma série de apartes na vida.
O desejo de sossego e a conveniência de preços levaram-me, em um período da minha vida, a ser freqüente em uma sobreloja dessas. Sucedia que quando calhava jantar pelas sete horas quase sempre encontrava um indivíduo cujo aspecto, não me interessando a princípio, pouco a pouco passou a interessar-me. (...)


Vamos mergulhar nesse universo enriquecedor de Fernando Pessoa e seus vários "eus" literários, e experimentar sensações e emoções que transcendem a concepção pré-determinada que temos das coisas, pessoas, e de nossa própria existência.

Imagem relacionada"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente."

Fernando Pessoa