quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Diários de Mochila e um conto hoje no blog

Fico super feliz em anunciar que a partir de agora colaboro no site Diários de Mochila com a coluna Papo Nada Sério?! Convido aos amantes das palavras conferir não só os meus textos, mas os dessa galera super talentosa do Diários! ;) Estreei com a poesia Escolhas... bora conferir?!

Abaixo segue um conto inspirado na concepção de que o universo é regido pelas forças masculina e feminina (quem sabe?!) tanto harmoniosamente quanto caoticamente. Fiquem com A Origem.


A origem


Essa é uma história de Amor. E ódio. Antes mesmo da concepção do existir, eles já existiam e devoravam o nada ao seu redor. Numa terra de ninguém, inexistia pureza ou pecado. Eles eram um só, numa dança atemporal, sem som, nem calor. O universo não dispunha de movimento. O cosmos, um vazio escoado à sua própria essência. Não havia definição alguma, atividade ou vontade.

Um casal rotineiro, sem filhos, com ausência de mínima variação nos costumes: não eram iguais, mas estavam fundidos numa imersão profunda e constante. Não se sabe ao certo o que houve; talvez a mesmice de sempre, o comodismo de ambos, ou a falta de novidade fez com que se separassem. Contudo, não foi um processo fácil, ambos eram por demais ligados um ao outro; já não sabiam onde esse começava e outrem terminava. Na verdade, mal tinham certeza de quem realmente eram, separadamente. Não possuíam identidade própria, entretanto iriam encontrá-la. O rompimento causou um colapso tal, que os abalos estenderam-se para além do infinito, alterando a ordem natural de tudo até ali. Cada um foi para um lado, em extremos opostos, e, à medida que caminhavam, a totalidade à sua volta expandia-se também. Foi quando ela descobriu-se grávida. Seria o resultado concreto do ato consumado. Realidade, insubsistente antes do término da relação, tornou-se exequível originando o movimento, e consequentemente o tempo e o espaço. Ela daria à luz ao fruto fecundo do mais puro Amor. Do Amor mais puro. O princípio da existência. Pariu. Deu vida a toda Criação. Seus filhos, sua prole. Viu-se mãe, e teria de aprender a lidar com esta nova condição para criá-los, ensinar-lhes a sobreviver por si mesmos. Enquanto em seu ventre, adormeciam no líquido amniótico, alimentados e protegidos pelo manto maternal da paz profunda, da serenidade da inconsciência. Fora dele, a Grande Mãe os instruiria oferecendo-lhes um leque de possibilidades. No começo, na distinção e diversidade de suas características, complementavam-se fraternalmente. Irmãos, semelhantes nas suas diferenças, iguais na sua essência. Amavam aquela que os gerou, a Mãe que forjou todo um mundo para ser o berço de suas crias. E ela sentia-se orgulhosa que cada qual era uma parte de si, e juntos, eram-na por inteira. Eles a ouviam; seguiam seus conselhos, era a voz que os guiava. Presenteavam-na, prestavam-lhe homenagens, honravam-na. Formavam uma família feliz, com uma matriarca que inspirava paciência, sabedoria, sutileza e coragem, a feminilidade da Vida.

Mas o Pai soube de seus filhos, e quis assumir seu papel e reivindicar seus direitos. O reencontro entre as Forças Creadoras (do latim, crear) foi desastroso, e resultou em discórdia, disputa de poder e autoridade, confrontos e desentendimentos que se propagaram como ondas eletromagnéticas desestabilizadoras. Uma luta de gigantes, e na ausência de base familiar, as criaturas tomaram o recém-nascido livre arbítrio para si. Vagaram errantes, desvirtuosos por veredas sombrias e pérfidas. Alguns de lá não mais sairiam. Nesse período, muitos se intitularam deuses, senhores sobre os demais, impondo-se com superioridade. A soberba, a iniquidade, as moléstias inundaram a terra com trevas que se estendiam por vales inteiros, por céus e mares, numa tormenta violenta de terror e maldade. Quando as Fontes Paradoxas do universo deram-se conta e olharam para toda a Criação, viram uma mixórdia do verbo em ação, propagada e desencadeada pela energia liberada da tensão dos Dois. Acusaram-se mutuamente. A Grandeza masculina tentou restabelecer a normalidade naquele caos. Sentiu-se frustrado nas tentativas em vão. O Pai dos Céus não tinha qualquer credibilidade na superfície terrena, não era respeitado, reconhecido pelos seus próprios filhos, que agiam sem fé, nem esperança. Decidiu puni-los. Escolheu um entre seus filhos para ajudar-lhe na renovação da vida de todo o planeta. Um que o escutou. Após dar-lhe as instruções necessárias, chorou. Desabou chorando, de dor e desespero, com um pesar profundo por não ter conseguido exercer controle por sob a Terra. Banhou-a com seu pranto, lavou-a creditando estar eliminando toda a impureza, achando serem suas lágrimas o antídoto ao vírus que assolava e corrompia a natureza, o código inicial da essência dos seres. De nada adiantou. O Mal proliferado já havia se enraizado profundamente nas entranhas do que outrora fora o mundo perfeito. E este mesmo mundo repovoou-se irregularmente, culminando em desarmonia generalizada novamente.

Agora as coisas iriam encaminhar-se por si mesmas, jurou para si o Aspecto Cósmico masculino. Ele e a universalidade feminina não mais se entenderam. Por tudo que deveria ser... e não foi. A palavra do pai aos poucos foi disseminando-se pela Terra, atingindo proporções e distorções várias, interpretada e mal interpretada, sugerindo mudanças nas condutas, comportamentos e posturas das pessoas. Nos seres que ele ajudou a criar. A Grande Mãe foi enclausurada. Quase esquecida. Houve tempos terríveis, sanguinários, de muito medo e intolerância... em nome da fé.

A matriarca aos poucos foi relembrada. A luz do esclarecimento, do conhecimento voltou a despertar os sentidos adormecidos da volúvel raça humana, segundo conta uma lenda. Assim, recobra-se o contato com a Verdade que em cada um habita, e que em todo lugar está, e isso traz a paz, a harmonia. Ainda conta a lenda que a união das Forças opostas que regem a vida universal, terá um desfecho feliz, pois eles se reaproximarão, retomando o casamento perfeito. O equilíbrio de toda concepção concreta e abstrata depende disso; viver num único e verdadeiro Reino: o do Amor.

 

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